469 de São Paulo: Uma cidade diversa de migrantes e imigrantes

469 de São Paulo: Uma cidade diversa de migrantes e imigrantes

 

Por: João Vítor Rodrigues

 

Hoje, dia 25 de janeiro de 2023 a cidade de São Paulo completa 469 anos. A maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo tem diversas características que a torna única, seja por coisas boas e ruins, como a grande desigualdade social e a crescente população em situação de rua. Entretanto, uma de suas características mais marcantes é sua pluralidade e essa característica é a responsável por construir e erguer a cidade, tornando-a o que é hoje. Atualmente, são mais de 70 países que deixaram sua marca na arquitetura, culinária, esportes e em muitos outros aspectos da cidade.

No início do século XIX, os imigrantes vindos de diferentes partes do mundo deram ainda mais dinamismo à capital paulista e ao interior do Estado. Hoje, estima-se que São Paulo seja a terceira maior cidade italiana do mundo, a maior cidade japonesa fora do Japão, a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade portuguesa fora de Portugal e a maior cidade espanhola fora da Espanha.

Há, ainda, os migrantes, que vieram de diversas regiões do Brasil para viver por aqui. Todos, juntos, fazem do Estado mais populoso do Brasil um lugar rico em diversidade e culturas, pois há influência de todos os cantos do Brasil e do mundo na rotina dos paulistas. Essa influência pode ser percebida em festas, hábitos, apresentações e feiras culturais. A maneira mais evidente de perceber isso é por meio da gastronomia presente na capital paulista.

A migração nordestina (Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão) para o estado de São Paulo, em especial para a capital, foi um fenômeno social bastante expressivo ao longo do século XX, especificamente a partir da década de 1930, quando o número de imigrantes estrangeiros vindos para São Paulo foi superado pelo número de migrantes nacionais (dos quais a maioria era de nordestinos); e especialmente na primeira metade da década de 1950 que compreende o período do segundo governo Vargas, quando esta migração se tornou muito intensa, superando todos os números do êxodo nordestino registrados até o momento. É importante ressaltar que no período falado, São Paulo passava por um grande processo de desenvolvimento econômico-industrial, pois, além de outros fatores, contava com um acúmulo de capital do setor cafeeiro desde o século XIX e com uma política protecionista e de substituição de importações do governo federal que, de certa forma, favoreceu a região.

Outra questão fundamental que não pode ser ignorada é a importância da população negra para a construção da capital. Muitos bairros que eram historicamente negros passaram por um processo de exclusão, como é o bairro da Liberdade. Quando falamos deste bairro, uma das primeiras imagens que são desenhadas em nossas cabeças é de um lugar que abriga uma grande comunidade de imigrantes japoneses, repleto de estruturas e prédios que conservam traços asiáticos, entre ruas decoradas por lâmpadas e faróis. Mas a trajetória do famoso bairro do centro de São Paulo vai além dessa imagem atual e testemunhou a luta da população negra contra a escravidão. Nomeado antes como o bairro da Pólvora, em referência à Casa da Pólvora construída em 1754, o local tem uma história de longa data que envolve desde a chegada de negros que eram submetidos à escravidão, até a ocupação de imigrantes portugueses e italianos durante o século 19.

De acordo com texto publicado pelo site Migra Mundo, Angélica Beghini, gestora do Núcleo de Pesquisa do Museu da Imigração, explicou que a memória das violências contra as populações africanas e afro-brasileiras foi esquecida em detrimento de migrantes internacionais que começaram a aportar no Brasil ainda no final do século 19: os japoneses. “Parte de um projeto de governo que pretendia substituir a mão de obra negra pela branca, os japoneses, considerados os ‘europeus da Ásia’ fizeram parte do grupo de migrantes desejados – ao lado de italianos, espanhóis, alemães, entre outros – no período conhecido como ‘Grande Imigração’”, disse.

O nome de ‘Liberdade’ ao bairro chegou pelo fim do século 19, quando a abolição da escravidão finalmente começou a ser uma pauta cogitada. Segundo Angélica, São Paulo se manteve como uma “cidade global”, ou seja, um espaço com diversos serviços, oportunidades de trabalho, lazer e circulação de capital, sendo um importante foco de atração de migrantes internacionais no país. Compreender as múltiplas influências dos migrantes na cidade é importante tanto para entender as diferentes heranças que compõem seu mosaico cultural, político e econômico, mas também para desconstruir estereótipos, como, por exemplo, o caso do bairro da Liberdade como reduto oriental. “A capital de São Paulo goza de um imaginário de cidade cosmopolita, avessa às cristalizações muito específicas sobre a sua identidade. Esse traço pode ser compreendido a partir dos processos de crescimento econômico, marcados pela cultura do trabalho de migrantes internacionais, mas também pela visão de uma modernidade fabricada que se pretendia branca e europeia”, afirma a gestora do Núcleo de Pesquisa do Museu da Imigração.

A cultura de São Paulo é plural por conta de toda essa formação heterogênea e essas manifestações se apresentam das mais variadas formas. Durante o ano as festas culturais das mais diversas regiões do mundo acontecem em São Paulo, para além disso a culinária da capital paulista também é marca da cidade, além da comida de diversas culturas, a culinária de outros povos foi implementada no dia a dia do povo, podendo citar em especial a comida asiática, árabe e italiana.

Como dito no início do texto, a cidade também possui alguns problemas estruturais que marcam São Paulo, e a população que vive nas ruas também é uma marca bem visível e nos últimos anos, também por conta da crise gerada pela pandemia e sua má gestão por parte do governo, essa população só aumentou. Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que a população em situação de rua no Brasil cresceu no ano de 2022. De acordo com os dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (POLOS-UFMG) mostrou que, apenas na cidade de São Paulo, são 42.240 pessoas vivendo nas ruas. Em todo o país, mais de 180 mil pessoas moram na rua. O número da capital paulista é 30% superior ao do censo da população de rua da prefeitura de São Paulo, que estimou a população de rua em 32 mil pessoas na capital.

A população migrante e imigrante também é bem marcante entre a população em situação de rua na cidade de São Paulo. Muitas pessoas que vieram para São Paulo em busca de melhores oportunidades muitas vezes não conseguiram as condições materiais para pagar aluguel e se estabelecer na cidade. Uma situação que exemplifica isso é a Ocupação dos Imigrantes no bairro da liberdade, no centro da cidade, uma ocupação que tem em sua grande maioria pessoas que vieram de outros países e estados.

A cidade de São Paulo e sua população possui uma história de resistência, luta e combate a todos esses problemas que foram citados e tantos outros que não foram. Enfim Padre Alfredo, vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes exemplificou em seu texto essas características:

 

Gigantesca “selva de pedra”: muito asfalto, concreto, ferro, vidro, máquinas, prédios, indústrias… Metrópole, multidões, comércio, arranha-céus, shopping-centers, bairros de luxo, mansões, condomínios fechados… Periferias longínquas, porões sórdidos, favelas, cortiços, população de rua, imigrantes, cracolândia!…

 

“Pauliceia desvairada”…

 

Cosmopolitismo, babel de todos os povos, línguas, nações, culturas, bandeiras e valores; encontros, desencontros, reencontros; cidade que quase todos criticam pelo gigantismo, a correria e o trânsito caótico, mas da qual, ao mesmo tempo, sentem saudades quando estão longe! Cidade que simultaneamente atrai e rechaça, acolhe e abandona, estende a mão e aponta para os abismos e becos sem saída!…

 

Antes de tudo, porém, lugar onde a vida nasce e cresce, move-se em ritmo veloz, acelerado, teimosa e resistente como os arbustos em meio às pedras, ou como as borboletas sobre os lixões. Vida que irrompe do chão duro e seco, ergue galhos e folhas – pronta para a tenaz travessia!

 

Parabéns São Paulo, que, em meio a tantos espinhos, ruínas, cinzas e escombros, és capaz de fabricar sonhos, esperanças e utopias… e de lutar para que esse imenso deserto urbano floresça e espalhe pelo ar o perfume inconfundível da vida que renasce e se renova… Parabéns também por tuas grandes diferenças de rostos, cores, amores, opções e escolhas… Longe de empobrecer-nos, tua diversidade nos torna a todos mais ricos, sim, potencialmente mais ricos, irmãos e irmãs!

 

Parafraseando o fabuloso Guimarães Rosa, esta Metrópole não deixa de ser um “grande sertão”, onde, de uma forma ou de outra, vamos abrindo, em sua extensão sem fim, “veredas” de todas as espécies, picadas nessa enorme floresta cerrada, sempre em busca de horizontes novos, onde o sol ilumine nossos passos incertos, trôpegos e titubeantes!

 

Alfredo, sp, 25/01/2023 

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