A TRAGÉDIA ANUNCIADA DOS YANOMAMI

Essa situação trágica dos povos indígenas, famintos, abandonados e esqueléticos, além da indignação e da condenação deste último governo desgovernado, que colocou a já combalida política indigenista do governo brasileiro, de cabeça pra baixo sob o comando de militares, sejam da ativa ou da  reserva e de uma ministra que não tinha e não tem compromisso com esses povos, além de  não terem as condições mínimas necessárias para conduzir essas ações de proteção dos povos indígenas no Brasil, é fruto de um projeto de morte e não apenas negligência. O governo passado permitiu e foi leniente com a sanha predatória do garimpo ilegal e virulento em terras indígenas, onde os Yanomami, agora em destaque, não são as únicas e ultimas vitimas. Devemos nos remeter a um documento profético, publicado em 1973, tempo mais duro e sombrio da ditadura militar, sob o comando de Garrastazu Médici.

O documento intitulava-se “Y Juca Pirama – O índio: aquele que deve morrer” e trazia ao conhecimento da sociedade e da opinião pública o risco que corriam nossos irmãos e irmãs, legítimos donos destas Terras de Santa Cruz. Foi assinado por um  parcela do nosso episcopado e  por missionárias e missionários corajosos, fiéis à Boa Nova de Jesus Cristo, bem como do profetismo do Antigo Testamento.

No mesmo ano de 1973, desafiando a mesma ditadura militar, os bispos do Nordeste traziam à luz outro documento igualmente profético: “Ouvi os clamores do meu povo”. Ambos os “gritos” marcaram época e colocaram a Igreja na rota evangélica da denúncia e do anúncio.

Se faz necessário resgatar o clamor de um novo “Y Juca Pirama”, anunciando a  defesa da vida dos povos originários, onde manifestemos nosso GRITO de indignação, a nossa defesa incondicional da VIDA , após o nascimento, infância e desenvolvimento desta VIDA, que está sofrendo um genocídio.

No estado de Roraima, crianças Yanomamis, incluindo um recém-nascido, são resgatadas em estado grave, com desnutrição severa e diversas doenças. Segundo informações do portal Metrópoles, o paciente mais novo, de 18 dias de vida, foi levado ao hospital com quadro de pneumonia profunda e chegou a ter cinco paradas cardíacas.  

“Um dado público é que nos últimos 4 anos, 570 pessoas Yanomami morreram decorrente da contaminação por mercúrio, por conta do garimpo ilegal. Agora, na casa de atenção à saúde indígena, tem 715 indígenas yanomami em desnutrição absurda”, disse Sônia Guajajara, ministra dos Povos Originários.

O Conselho Indigenista Missionário-CIMI já denunciava em suas publicações que a política pública de saúde aos povos originários, que fora criada com muitas lutas e com a participação de lideranças de povos originários do Brasil inteiro, estava exposta à estagnação e mesmo à um desvirtuamento:

Os retrocessos marcaram esses anos todos do subsistema de atenção à saúde

A execução da política acaba sendo submetida aos governos que nomeiam, aos cargos de chefia, apadrinhados dos partidos, ou de corporações e/ou de amigos. Nos últimos quatro anos, a saúde indígena vem sendo operada – quase literalmente – por agentes vinculados às polícias, ao Exército, Marinha e Aeronáutica. Em geral, são pessoas que não conhecem a administração pública federal e muito menos entendem acerca dos povos indígenas e seus direitos e são absolutamente leigas no tocante à saúde. A gestão dos distritos passa por graves desafios porque neles foram abrigados sujeitos com esse perfil. E pelo fato de não conhecerem do funcionamento dos distritos, das especificidades étnicas, culturais, geográficas e por estarem a serviço de um governo descompromissado com a garantia dos direitos indígenas, mantêm uma relação truculenta, autoritária e desrespeitosa com as populações indígenas, suas lideranças, com servidores e funcionários ligados aos distritos, tanto públicos como contratados pelas entidades prestadoras de serviços. (do artigo de Roberto Liebgott, do Cimi Regional Sul, 24/08/2022)

O Papa Francisco em um dos seus encontros com os povos indígenas, nos lembra e nos chama atenção: “Os povos indígenas são um grito vivo em favor da esperança. Recordam que nós, seres humanos temos uma responsabilidade compartilhada com o ‘cuidado da casa comum’

23/01/2023

SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES

 

Artigo na íntegra: https://cimi.org.br/2022/08/politica-de-atencao-a-saude-indigena-caminhos-em-meio-aos-percalcos/

Fotos: Adriana Huber / CIMI Norte 1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.