37ª Semana dos Migrantes – Por Márcia Oliveira

Entre os dias 12 e 19 de junho se celebra no Brasil a 37ª Semana dos Migrantes, realizada anualmente pela Pastoral dos Migrantes (SPM) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano, traz como tema ‘Migração de Saberes’ e como lema ‘Escuta com Sabedoria e ensina com a Prática’ fazendo referência aos ensinamentos que as migrações apresentam para toda a sociedade. E na sequência, dia 20 de junho celebramos o Dia Mundial dos/as Refugiados/as. Em todo o Brasil, muitas atividades estão se realizando durante todo o mês de junho para celebrar os/as migrantes e os/as refugiados/as. 

Parafraseando Zygmunt Bauman, o sociólogo das migrações, em seu último artigo escrito em 2017 ‘estranhos à nossa porta’, as migrações dizem muito da sociedade. As migrações representam uma pontinha do iceberg que indicam que há problemas profundos numa sociedade marcada pelas desigualdades e injustiças capazes de expulsar do seu território os próprios filhos enxotados pela fome, miséria, desemprego, perseguições, guerras e todo tipo de violência produzidas pelo sistema capitalista que se revela um modelo de sociedade baseado na injustiça social. 

Não obstante, as migrações também representam   toda sorte de teimosia e esperança e ensinam a teimosia da resiliência com a luta e a resistência de milhares de pessoas que todos os dias partem em busca de uma vida melhor. Os migrantes são portadores do verbo “esperançar” apresentado pelo eterno educador Paulo Freire, como todo movimento em vista de transformações profundas da sociedade. 

As migrações provocam transformações profundas tanto na sociedade de origem como nas sociedades de destino. Atualmente os migrantes e os refugiados representam um terço da população mundial que experimenta toda sorte de sofrimento e resiliência com uma capacidade incrível de superação e adaptação aos novos desafios, por uma questão de sobrevivência e de teimosia. Nos passos dos migrantes circulam importantes mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas. 

Na Amazônia, as migrações, caracterizadas por deslocamentos internos e internacionais, são intensas desde os processos colonizatórios. Para o Papa Francisco, isso representa um grande desafio pastoral.  Uma das lideranças mundiais mais preocupadas com os migrantes na atualidade, na exortação pós-sinodal Querida Amazônia, o Papa Francisco afirma: “quero lembrar que nem sempre podemos pensar em projetos para comunidades estáveis, porque na Amazónia há uma grande mobilidade interna, uma migração constante, muitas vezes pendular, e a região transformou-se efetivamente num corredor migratório. A migração na Amazônia não foi bem compreendida nem suficientemente elaborada do ponto de vista pastoral. Por isso desafia as nossas comunidades urbanas, que deveriam cultivar com inteligência e generosidade, especialmente nas periferias, várias formas de aproximação e acolhida às famílias e jovens que chegam ao território” (Querida Amazônia, 2020, n. 98).

Os migrantes são portadores da fé e levam consigo suas vivências comunitárias para fazer circular saberes, conhecimentos, arte, culinária, cheiros, ritmos, canções e temperos. Carregam saudades, lembranças, memórias de sofrimentos e alegrias que ressignificam sua existência em outros territórios.  Muitos deslocamentos são causados pelas mudanças climáticas que provocam eventos ambientais como o que ocorreu com o terremoto no Haiti em 2010. Outros deslocamentos marcados pela violência e expulsão, são resultado da ganância, das desigualdades, das injustiças e de toda forma de exploração. Ao mesmo tempo que a Amazônia acolhe migrantes dos países vizinhos nas relações transfronteiriças, também envia para outros países uma quantidade imensa de pessoas que partem em busca de melhores condições de vida, de oportunidades de trabalho ou de estudos. 

Por isso, é possível afirmar que acolher e integrar/incluir os migrantes e refugiados não é uma questão de opção. É uma atitude evangélica e de justiça social que exige coerência, coragem e abertura para mudanças pessoais e estruturais. No atual contexto migratório da Amazônia, avançar para além do atendimento emergencial e criar políticas públicas que promovam a inclusão econômica e sociocultural dos migrantes e refugiados recorrentemente ignorados nos planos, nacional, regional e local, são tarefas da gestão do território que os governos precisam assumir segundo os protocolos internacionais e os marcos constitucionais do Brasil. Mas, é também tarefa de toda a sociedade que ao participar desses processos de acolhimento e inclusão se dispõe a experimentar mudanças profundas e a libertar-se de todas as formas de egoísmo, ignorância, intolerância,  racismo, xenofobia (especialmente a institucional) e toda forma de discriminação.  

 

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