DESFILE DOS MUTILADOS – Poesia Pe Alfredinho

 

Há os que o são no rosto retorcido,
desfigurado por medos e dúvidas,
fotografia da fome e da pobreza
em múltiplos brasileiros e brasileiras.

Há os que o são no olhar turvo e torvo,
dobrado ao chão pela vergonha:
da incerteza e do insucesso,
da inquietude e da insegurança…
Mas não batido nem vencido.

Há os que o são nos membros,
aparentemente saudáveis
– jovens, fortes, vigorosos –
mas impotentes de buscar o pão
e levá-lo à mesa da própria família.

Há os que o são no corpo encurvado
pelo peso da escravidão multissecular,
que não mais encontram ânimo
para erguer-se e caminhar por si sós.

Há os que o são no coração e na alma,
marcados por velhas e novas feridas,
invisíveis ou mal cicatrizadas,
que os paralisam ao medo e terror,
herança maldita de tamanha sujeição.

Há os que o são no espírito enfermo,
desencantado e descartado,
banido pelo lucro e mercantilização
das coisas, das terras e das pessoas.

Há os que o são no baú da memória:
origem de pesadelos e massacres,
em lugar de tesouro de lembranças;
existência banhada de suor e sangue.

Há os que o são na energia vital,
mas que com teimosia e resiliência,
logram retomar a fé e a esperança:
avançam de cabeça e mãos erguidas
para um amanhã vivo e recriado.

alfredo, sp, 01/03/2023

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