Que fizeram contigo, meu filho?
Meu filho, Genivaldo de Jesus Santos, que fizeram contigo?
Não passavas de um cidadão honesto e trabalhador,
Como milhões de outros filhos e filhas desta terra;
Para que serve a refrão “pátria amada Brasil”,
Se depois tratam os brasileiros como criminosos?
Não, não eras ladrão nem criminoso, nunca o foste;
Em Umbaúba, Sergipe, as pessoas te conheciam desde menino,
Todos sabem que não eras criminoso, e muito menos perigoso.
Ao contrário, há tempo sofrias de distúrbios mentais,
A esquizofrenia, que te levava a tomar remédio controlado.
Tudo isso foi dito e redito para os policiais que te abordaram:
Te agarraram, te algemaram e te jogaram para dentro do carro;
Ainda tentaste mostrar o remédio que estavas tomando,
Tentaste explicar, gritar, defender-te como era possível,
Mas a polícia permaneceu cega e surda pelo furor e pelo ódio;
Não ouviu teus gritos e tampouco a reação das testemunhas.
Nada adiantou: imobilizado, indefeso, trancafiado no camburão,
Acabaste por morrer asfixiado e imóvel nesse espaço apertado,
Pelo efeito do gás lacrimogênio, pela falta de ar, pelo desespero;
Embora os policiais tenham tentado inventar um “mal súbito”,
A perícia e o laudo do IML de Aracaju não deixam dúvidas:
“Asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda” foram as causas da morte.
Mais uma vítima inocente de uma corporação policial inepta e assassina,
Treinada não para proteger as pessoas, e sim para matar todo e qualquer “suspeito”.
Com razão dizia o poeta: “há soldados armados, amados ou não /
Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão”.
Matar ou morrer, morrer ou matar – é o refrão da “antiga lição”!
Trabalhadores, jovens, negros, usuários de droga – cedo ceifados,
Abatidos pela força míope e a prepotência da farda e da arma
Maldita a pátria que se ergue sobre o ódio e a violência brutais,
E o rastro macabro de cadáveres – de pandemia e de “ações policiais”.
Meu filho Genivaldo, meu menino doente numa sociedade enferma,
Aos 38 anos te levaram como um malfeitor, um pária descartável,
Mas onde quer que esteja, onde quer que more ou se esconda,
A justiça se move, ou então, como se diz, “tarda, mas não falha”.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs
São Paulo, 27 de maio de 2022