Migração e Saberes
Migração e Saberes
Pe Alfredinho
Saber não é só o que se adquire com lápis, caneta e papel, mas também o que nos traz a enxada ou pá, prumo ou vassoura e a grande multidão de ferramentas do trabalho cotidiano;
Saber não é só o que nos ensina o professor na sala de aula, mas também o que se forja nas tribulações e adversidades da travessia pelo ar, pelo mar, pelos desertos e florestas;
Saber não é só o que chega através dos bancos da escola, mas também o que se descobre com o vaivém errante de quem deixa a terra natal em busca de novo solo pátrio;
Saber não é só o que diz a alquimia das letras, palavras e frases, mas também o que se oculta no silêncio e no ouvido atento, quando a escuta é simples e aberta, respeitosa e reverente;
Saber não é só o que se multiplica ao lidar com números e contas mas também o que se oferece de forma gratuita e sem medida, pois na matemática da vida quanto mais se dá, mais de obtém;
Saber não é só o que revelam as páginas de livros e bibliotecas, mas também o que os pés imprimem nas veredas do caminho e este imprime no coração, na mente e na alma do forasteiro;
Saber não é só o que se acumula com diploma sobre diploma, mas ainda as diferentes paisagens que vão se descortinando, a quem, passo a passo, curva a curva, cruza fronteira sobre fronteira;
Saber não é só o que organizam as pesquisas, tratados e universidades, mas também o que produzem as mãos de quem atravessa caminhos para semear e colher, erguer casas, prédios e cidades inteiras;
Saber não é só a reflexão individual de estudos, ideias e conceitos, mas também o resultado do esforço e empenho conjuntos, onde o mutirão e a solidariedade potencializam cada trabalho;
Saber não é só feito de verdades, dogmas, certezas já consolidadas, mas também a coragem de abrir-se às próprias dúvidas e interrogações, num processo permanente de aprendizado conjunto e recíproco.
Saber não é só o tesouro onde guardo as pérolas de minha vida e história, mas também o diálogo mútuo com outras expressões, culturas e valores, pois no coração de cada pessoa e de cada povo existem sementes da paz;
Saber não é só possuir água e alimento para dar aos sedentos e famintos, mas também transparência e honestidade para desnudar a própria sede e fome, uma vez que a verdade não está com o “nós” ou com o “eles”, e sim no diálogo.
Saber não é só o que se ganha pela tradição de familiares e antepassados, mas também o que trazem os outros, pois as diferenças e a troca de saberes enriquecem toda humanidade.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, vice-presidente do SPM
São Paulo-SP, 01 de dezembro de 2021