BRASIL IGUAL A SI MESMO #congressoinimigodopovo

Poucas vezes o Brasil foi tão igual a si mesmo como no decorrer deste ano de 2025. Bastaria uma olhada, ainda que superficial, aos cientistas sociais clássicos (Celso Furtado, Florestan Fernandes, Raymundo Faoro, Caio Prado Junior, Gilberto Freire. Darcy Ribeiro, entre outros) para dar-se conta de uma certa continuidade histórica que se perpetua no país. Três aspectos ou três metáforas podem servir de orientação: o poder das oligarquias socioeconômicas regionais, o tripé da economia brasileira e as disparidade-complementariedade entre Casa Grande & Senzala.

Historicamente, como nos ensinaram na escola, a economia brasileira baseia-se em ciclos econômicos. Vale acrescentar que, para cada um desses ciclos, emergem determinadas oligarquias, as quais, posteriormente, defendem, com unhas e dentes, o poder político derivado do poder econômico. São os chamados “donos do poder”, de acordo com a expressão de Raymundo Faoro. Não é difícil elencar exemplos históricos, como também atuais. Oligarquia do café com leite, entre São Paulo e Minas Gerais, oligarquia do cacau na Bahia, oligarquia da cana-de-açúcar, seguida da oligarquia do Proálcool, oligarquia da mineração em Minas Gerais, oligarquia do algodão e da borracha… Algumas permanecem até os dias de hoje, outros foram nascendo com o passar do tempo, tais como, a oligarquia do agronegócio, que se mescla com a da produção de carne e grãos, as oligarquias das telecomunicações, do transporte público, da indústria em geral, do comércio de alimentos e manufaturados (supermercados e shopping-centers), e assim por diante.

A riqueza adquirida através dos recursos da nação, em particular a exploração do solo e subsolo, serve de trampolim para o domínio político. Assim, nasceram, se fortaleceram e se consolidaram as oligarquias regionais, como seus nomes e sobrenomes. Mas sobretudo com suas cadeiras cativas na Câmara Federal e no Senado, para não falar das câmaras estaduais e municipais. O dinheiro leva ao voto, o voto leva ao mandato e este último, por sua vez, se repete conforme o poder político. Dessa maneira, forma-se o círculo vicioso, às vezes familiarmente dinástico, outras vezes com núcleos ou currais eleitorais rigidamente controlados por cabos ou capangas. Será exagero afirmar que o atual chamado “centrão” do Congresso Nacional tem raízes nessa tradição de manter a todo custo a cadeira cativa do poder?!…

Semelhante poder econômico, que alicerça o poder político, tem origem no que foi historicamente batizado de tripé da economia nacional: latifúndio, trabalho escravo e monocultura (monocultivo, preferem outros) de exportação. Com isso, da mesma forma que outras nações periféricas, o Brasil acabou se especializando em produtor e exportador de matérias-primas, ou produtos in natura, para os países centrais. Ao mesmo tempo que a política econômica favorece o latifúndio agroindustrial e o abastecimento do mercado externo, os produtos que o país mais produz são aqueles que o cidadão paga caro para consumir. Ou seja, a prosperidade do solo e subsolo determina a pobreza da população local. Chegam os abutres, tomam tudo o que lhes cai nas garras e deixam os moradores abandonados. Esse tipo de colonialismo, de resto, é marca registrada de toda a América Latina e Caribe. As riquezas naturais geram a miséria e o abandono da população nativa. Como fornecedor e matérias-primas, os países criam escassos postos de trabalho estáveis. Fatias crescentes de trabalhadores e trabalhadoras se veem forçados a migrar para o mercado informal, ou para serviços análogos à escravidão. Disso resulta que o trabalho vem se precarizando sempre mais, adquirindo a forma de “bicos” efêmeros, provisórios e temporários.

Esse tipo de economia, e o sistema de poder dela decorrente, mantém viva e ativa a metáfora da Casa Grand & Senzala, cunhada por Gilberto Freire. Atualmente, poderia ser traduzida como Planalto central e planície. De um lado, o poder centralizado e simbolizado na capital, Brasília, de outro, o resto da nação. Quando os representantes das oligarquias regionais e locais se instalam em Brasília e se viram sobre o próprio umbigo, priorizando os interesses pessoais, familiares ou corporativos, em detrimento das necessidades básicas da população, compete à Casa Grande defender com todas as forças o status quo. Daí a oportuna e pertinente #cogressoinimigodopovo – como retrato do que temos visto nas últimas semanas. A atual Casa Grande, salvo raras e boas exceções, mais parece uma nave espacial de luxo e ostentação, pairando sobre o restante do país, indiferente às dores, males e gritos que teimam em se levantar do chão.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM – 09/07/2025

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