INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Será mera coincidência o fato de que, à medida que avança a Inteligência Artificial (IA), cai o nível médio da inteligência humana natural? Com efeito, a crescente falta de bom senso, a preguiça no uso da reflexão racional e o conceito de declarado “negacionismo” vão se estabelecendo de forma perigosa. Em termos populares, tudo indica que boa parte da população está se tornando mais burra, ignorante. A barbárie tende a sobrepor-se à educação, curiosidade e convivialidade. Estará a humanidade regredindo racionalmente? Impõem-se, progressivamente, os instintos imediatos, os impulsos primários, as paixões desenfreadas e os interesses mesquinhos.

Por outro lado, o egoísmo e o egocentrismo superam, de longe e por toda parte, o altruísmo e a solidariedade. Generaliza-se uma nova edição do individualismo, a tal ponto exacerbado que casa pessoa apresenta-se dobrada sobre o próprio umbigo. Neste está não apenas o centro do indivíduo, mas também o centro do mundo. Tudo gira em torno de um “eu” cada vez mais cerrado em sua torre de marfim, ou mesmo em seu casebre de pau a pique. O eu-tu do diálogo se reduz a um isolamento hermeticamente fechado. Uma espécie de mutismo tóxico, envenenado, substitui o silêncio fértil e povoado.

Desnecessário acrescentar que os video-games e as redes sociais têm muito a ver com semelhante forma de isolacionismo. A Internet retira as crianças, jovens e adolescentes do convívio sadio e saudável com os meninos e meninas da mesma geração. Mas os retira igualmente do confronto enriquecedor tanto com as gerações anteriores, quanto com as gerações e posteriores. Resulta evidente que a recusa a um processo recíproco de comunicação, a médio e longo prazo, empobrece o indivíduo. As fontes, relações e trocas de saber vão se reduzindo gradualmente. Mas não é só isso! A fonte atualmente prioritária, isto é, aquela que nos chega através das telas e telinhas tende sempre mais a respirar ódio, mentira e difamação.

Reina uma realidade virtual que se impõe à realidade cotidiana. Enquanto esta última nos chama a algum tipo de responsabilidade, aquela se converte em rota de fuga. Por que a tentativa entender o mundo se posso escapar dele!? Por que a ideia e o empenho para transformar a sociedade se posso viver encaramujado no meu canto!? Por que essa trabalheira de conscientização, organização e mobilização, se posso viver tranquilo e ensimesmado!? A inércia tem a primazia sobre o movimento, o comodismo sobre o compromisso, o sossego sobre a ação.

Atrofia-se, dessa maneira, a capacidade de ler, escrever, interpretar e dialogar. Pior, atrofia-se o inestimável dom da criatividade: para quê criar, se posso imitar, repetir, papaguear!? Difunde-se à exaustão a lei do menor esforço, o método “cópia e cola”. Escolas e universidades que o digam: quantos alunos fazem toda a travessia do ensino fundamental ao ensino superior sem ter lido um livro sequer, incapazes de compor uma frase, sem saber compreender um texto, e menor ainda redigi-lo. Nesta perspectiva e com tamanha inatividade, claro que a IA ver superar e compensar a degeneração humana do aprendizado, da memória e da trajetória histórica.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM, São Paulo/SP, 21/05/2025

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.