[Pe. Alfredinho] Migrações, José Marchetti e expansão de São Paulo

Nas duas últimas décadas do século XIX, e passando para o início do século XX, três aspectos são indissociáveis para entender o que virá a ser o crescimento rápido e desordenado da cidade de São Paulo. Em primeiro lugar, numa perspectiva sociológica, temos a imigração em massa, especialmente de cidadãos italianos, que atravessavam o oceano para substituir a mão-de-obra escrava. Tal substituição, como consequência direta, será acompanhada da migração interna dos negros, rechaçados das fazendas do interior para cidade pela Lei Áurea sancionada pela Princesa Dona Isabel, filha de Dom Pedro II, no dia 13 de maio de 1888.  Desnecessário acrescentar que a população negra chega à zona urbana com as mãos literalmente vazias e o destino à deriva. 

Em seguida, e como resultado dos dois referidos fluxos migratórios (externo e interno), vem a exponencial expansão demográfica da cidade de São Paulo. Enfim, desde um ponto de vista religioso, e mais particularmente no que diz respeito à Pastoral dos Migrantes, a presença breve, mas intensa e significativa, do Pe. Giuseppe Marchetti, juntamente com outros missionários e missionárias da obra scalabriniana. Os três aspectos representam como que três igarapés que convergem para formar o grande e turbulento rio da “transição do Império para os primeiros anos da República”. Por isso mesmo, não podem ser dissociados, complementando-se reciprocamente. É o que revelam os escritos do Pe. Antonio Perotti. Passemos a ele a palavra.

“Em relação à imigração italiana no estado de São Paulo, onde trabalharam Pe. Marchetti e vários missionários scalabrinianos depois de 1896, é bom lembrar que os italianos, com cerca de 1.000.000 de indivíduos, em 1890, representavam 40% de toda a imigração no estado de São Paulo. Em certos períodos, essa proporção cresceu notavelmente, como por exemplo entre 1886 e 1896. Nessa década, a Sociedade Promotora da Migração trouxe para o estado de São Paulo 480.896 imigrantes, dos quais 353.139 italianos, ou seja, 73,4% do total”. “É nesse decênio de transição do Império para os primeiros anos da República, em que entrou no Estado de São Paulo uma verdadeira avalanche de italianos, que Pe. Marchetti começou seu apostolado na Capital e no interior do Estado de São Paulo, percorrendo as fazendas de café. 

A cidade de São Paulo viu quadruplicar sua população entre 1890 e 1900: de 64.934 em 1890 para 239.820 em 1900. Pe. Marchetti chegou em São Paulo precisamente neste período da sua expansão demográfica, em que a população estrangeira, formada principalmente por italianos, superou de muito a população brasileira’. (Cfr. PEROTTI, Padre Antonio, João Batista Scalabrini e as migrações no contexto histórico das migrações europeias nas Américas, Volume I, Congregação dos Missionários de São Carlos, CS, São Paulo, 2020, pag. 33-34).

Semelhantes observações de Perotti, por sua vez, nos remetem à obra de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Segundo o renomado historiador, enquanto as cidades das colônias espanholas se formaram com relativa ordem – um centro característico dos poderes civil e religioso de onde partem as ruas relativamente bem traçadas – as cidades da desta gigantesca colônia portuguesa, Terra de Santa Cruz, tendem a crescer como verdadeiros acampamentos. Se a cidade de São Paulo já se desenvolvia com tais marcas impressas, a chegada dos negros e dos italianos só fizeram acentuar-lhe os traços. O mesmo se pode dizer do fluxo dos demais países europeus, dos nordestinos, dos hispânicos, dos asiáticos e atualmente de todo mundo!…

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, vice-presidente do SPM – São Paulo, 15 de março de 2021.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.