HOLOCAUSTO DO SÉCULO XXI?

Seria exagero utilizar a expressão  holocausto do século XXI para classificar o que está acontecendo na Faixa de Gaza? Dezenas de caminhões da ajuda humanitária bloqueados por dias e semanas, devido à intransigência do primeiro ministro Benjamin Netanyahu e pela força brutal do exército de Israel; pessoas em desespero estendendo as mãos com algum recipiente para, aos empurrões e gritos, disputar o alimento que chega de migalha em migalha; centenas de milhares de crianças condenadas a morrer de inanição e fome, por causa da subnutrição das próprias mães; mães e pais enlouquecidos de dor e sofrimento, ao sepultar precocemente os filhos sem vida; por toda parte, mutilados física, emocional e mentalmente; proibição de deixar a área, fortemente vigiada pelos soldados; remédios e insumos hospitalares detidos nos bloqueios de Israel e, por cima dos escombros e das ruínas, das cinzas e do pranto, a avalanche de bombas continua caindo de um céu de fogo, como chuva de ódio e morte – que mais precisa para lembrar o holocausto!?…

Holocausto do século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, em que o povo judeu foi dizimado aos milhões pela fúria de Hitler e seu exército, na chamada “solução final”; holocausto do século XXI, perpetrado pelo atual governo de Israel, e que já ceifou mais de 50 mil vidas, entre estas a maioria de civis, mulheres e crianças. Nas motivações de origem a essa violência, não se caracterizam em ambos as tragédias uma limpeza étnica? Claro, no primeiro caso, a “raça pura e branca” pretendia eliminar tudo que classificava de “impuro e inútil”; no segundo caso, ao contrário, há o fator da reação ao atentado do Movimento de Resistência Islâmica, Hamas, que matou mais de mil pessoas e sequestrou mais de cem.

Nada disso, porém, justifica o massacre de milhares de inocentes. Pior é a forma como o massacre é feito: prender os palestinos num espaço reduzido e passar a um bombardeio feroz, tenaz e mortífero. Ataques diários e implacáveis, sem respeito por escolas, hospitais e outros serviços públicos. E sem poupar as equipes de socorro, nem os princípios éticos e os representantes da ONU.

Mas há mais uma coisa que não pode ser esquecida. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a ordem era criar dois estados: um para os israelitas e outro para os palestinos. Pouco a pouco, no entanto, o Estado de Israel foi ocupando os territórios palestinos. Ou seja, se a guerra ao Hamas e à Faixa de Gaza constitui uma reação ao atentado violento dos palestinos, estes últimos, por sua vez, há décadas vêm sofrendo a violência de Israel nos territórios ocupados. Por isso, não existe justificação para continuar com essa guerra, a qual, é bem que se diga, tem o apoio irrestrito e as armas dos Estados Unidos. Terminamos com as palavras do saudoso Papa Francisco: menos armas e mais alimento, menos muros e mais pontos. O diálogo, e não a guerra, deve prevalecer, liderado pela ONU e pelas grandes potências mundiais.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM. São Paulo/SP, 24/05/2025

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