XENOFOBIA & APOROFOBIA

Xenofobia e Aporofobia – duas palavras irmãs e gêmeas. Dois conceitos de medo, aversão, hostilidade: respectivamente, aversão ao outro/diferente e aversão ao pobre. Dois casos de rejeição e rechaço que se cruzam e recruzam na mentalidade de boa parte da sociedade. Aqueles que recusam e hostilizam o pobre em situação de rua costumam ser os mesmos que fecham as portas e discriminam o outro, o diferente, o estrangeiro. Prevalece o preconceito e a intolerância. A agressão fere, ao mesmo tempo, os que não dispõem de endereço físico e os que, longe do solo em que nasceram, procuram uma nova pátria.

As vítimas mais vulneráveis são os “condenados da terra”, na expressão dolorida de Frantz Fanon, filósofo e psiquiatra originário das Antilhas Francesas. Ou então os sobrantes e descartáveis da atual economia globalizada que “exclui, descarta e mata”, de acordo com o saudoso Papa Francisco. Pessoas e famílias que se contam aos milhões, escorraçadas da terra natal pela violência, pela pobreza e pelas mudanças climáticas. Gigantesco exército de reserva mundial correndo atrás dos ventos do capital e das migalhas que caem da mesa dos ricos. Desprezados por estes últimos porque incapazes de produzir e de consumir. Desconsiderados, por isso mesmo como seres humanos.

Um punhado de milionários e bilionários, como os emblemáticos Donald Trump e Elon Musk, vão se apoderando de toda a riqueza e poder, passando a decidir quem merece e quem não merece um lugar ao sol sobre a face da terra. Não se trata apenas de sistema capitalista de produção e consumo exacerbados. Tampouco se trata apenas da ideologia da extrema-direita exclusiva e excludente. Trata-se, ainda, de supremacismo, crença de que existe uma raça branca superior, com direito igualmente superior, e inquestionável, de ocupar os espaços vitais para sua sobrevivência, dominação e perpetuação. Aplicando à sociedade a lei da seleção natural de Darwin, essa raça superior, por ser mais forte e vencedora, deve desfrutar dos bens do planeta, em detrimento e prejuízo dos mais fracos e perdedores. Numa palavra, as raposas são chamadas a cuidar do galinheiro, os lobos do rebanho e os tubarões do aquário!

Impõe-se, com isso, um tipo digamos pós-moderno de colonianismo, guiado pela tecnologia de ponta, pela revolução da informática e pela Inteligência Artificial. Em lugar da tradicional ocupação do espaço territorial, esse novo colonialismo arroga-se o direito de confiscar os recursos raros e caros do solo e subsolo dos países periféricos em benefício dos países centrais. Em termos nacionais, regionais e internacionais, cresce progressivamente o fosso entre a concentração de renda e a exclusão social, aumentam as assimetrias e desigualdades socioeconômicas, amplia-se a distância entre o topo e a base da pirâmide social.

Resulta que, não raro, as chamadas “pessoas de bem” passam a ser confundidas com as “pessoas de bens”, quando, na verdade, são justamente estas últimas que promovem esse status quo tão injusto e desigual. As mesmas que, por medo a aversão, disseminam o vírus da aporofobia e da xenofobia. Criam-se duas raças humanas: “os nossos”, do lado de dentro, e que dispõem de todos os direitos e regalias; e os “outros”, do lado de fora, relegados à lenta extinção, seja pela miséria e pela fome, seja pelo álcool, a droga ou a violência.

O desafio e a esperança é que tamanha e tão espantosa distância entre ricos e pobres possa engendrar o escândalo, de um lado, e o despertar da consciência, de outro. Talvez assim as pessoas, grupos, movimentos e organizações populares se ponham em marcha para a mobilização massiva contra tanta injustiça e tanta violência estrutural e muitas vezes legalizada, isto é, institucionalizada.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM , Vassouras-RJ, 12/05/2025.

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