ESPERANÇA X EXPECTATIVA
Durante o ano Jubilar 2025 convém distinguir as noções distintas de esperança e de expectativa. Na sociedade contemporânea em que vivemos – “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) – não raro a esperança acaba sendo reduzida a mera expectativa. Expectativa desde o ponto de vista profissional, de bom emprego, de comprar casa ou carro, da riqueza ou prosperidade, de celebridade e influência, e assim por diante…
O mercado, a grande mídia, as redes sociais, através de um marketing insinuante e estridente, facilmente reduz a esperança à expectativa do consumo, da moda, do bem viver e do surfar na onda… para não ficar atrás da corrida frenética típica do mundo de hoje. Com o firme pretexto de acompanhar a última moda, com frequência somos recrutados para essa disputa surda e obsessiva, desencadeada pelo fascínio do consumismo.
A expectativa, na verdade, se nutre da maximização do processo de produção, produtividade e consumo, o que leva fatalmente ao desperdício e descarte precoces. Expectativa tem a ver com a crença cega nas forças humanas da razão, da ciência e da tecnologia de ponta. No fundo, é a inteligência do ser humano que dita as regras, o ritmo e o rumo. Acreditamos em nossas próprias energias.
A esperança consiste em algo muito diverso. É o que nos mantém de pé nas situações-limites da vida: “Tudo está escuro, não vejo saída, o chão parece ter fugido debaixo dos pés, medos, dúvidas e perguntas se multiplicam… mas eu creio”! “Esperar contra toda esperança”, diz o apóstolo Paulo. Numa palavra, a esperança é alimentada pela fé. Um salto no escuro nas mãos de Deus. Diferentemente da certeza, inimiga da fé e amiga do fanatismo, a esperança crê não naquilo que vê, toca e manipula, mas nas forças ocultas e invisíveis do Espírito. O que está à mão não desperta esperança, mas cobiça, ambição.
Enquanto a expectativa prima pelo imediatismo, a esperança tem consciência que o tempo e o caminho de Deus não coincidem com o tempo e o caminho da pessoa humana. A vertiginosa velocidade da expectativa contrasta com o ritmo lento, sóbrio e sábio da natureza. A expectativa joga a semente e logo corre a buscar a colheita. A esperança sabe que entre a semeadura e o fruto há o tempo da natureza. Ela respeita esse tempo de reciclagem da terra. A expectativa o atropela e causa destruição, morte, contaminação.
A esperança tem plena consciência que a história, a exemplo da terra, se nutre de chuva fina, continuada. A chuva grossa e a tormenta, seja no solo ou na tirania da sociedade, devasta e leva de roldão os nutrientes. Ambas – terra e história – só se alimentam com a razão associada ao bom-senso. Punhos, gritos e armas, longe de corrigir os rumos da história, distorcem-lhe os meios e os fins.
A expectativa visa o sucesso e a celebridade. Pode ser saciada nos palcos artificiais, diante dos microfones, câmaras e holofotes. Ou então nas lojas ricas e profusamente iluminadas do shopping-center. E com salvas coloridas de fogos de artifício. A esperança se dá conta que o brilho dos fogos ao subir, na descida se converte em cinzas. Ela desvenda o brilho falso desses cenários midiáticos, tentando buscar os bens que “não podem ser roubados e que a traça não corrói”. Esperar e esperançar é crer naquilo que está para além dos fatos, e que lhes confere um sentido e significado que a razão humana, por si só, é incapaz de descobrir. Com sua graça, Deus reconhece a obra humana e a reveste com roupas cujo brilho se coloca para além de nosso olhar peregrino e terrestre. Por isso, seguimos confiantes como Peregrinos de esperança.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM – São Paulo, 21/02/2025


