Trabalho e educação
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs
Em 1º de maio comemoramos o Dia Mundial dos Trabalhadores e Trabalhadores, em 28 de abril celebramos o Dia Mundial da Educação. Duas datas complementares e intrinsecamente ligadas. O binômio trabalho-educação, com efeito, faz parte integrante da vida de cada um de nós e de toda a humanidade. Teoricamente, a educação/estudo leva a uma melhor inserção no mercado de trabalho em particular e na sociedade em geral. O mundo do trabalho, por sua vez, pressupõe trabalhadores e trabalhadoras devidamente preparados, capacitados, qualificados. Qualquer emprego hoje requer formação adequada, ao passo que a educação abre novas portas para uma contribuição na específica na economia e nas relações sociais que vamos tecendo ao longo da existência.
Com razão, muitos pais encaminham seus filhos para a escola e a universidade “para que eles não tenham que passar por aquilo que nós passamos”. Uma formação sólida e robusta constitui a via mais segura para a chamada “mobilidade social”, isto é, a elevação do nível de vida. Inversamente, a falta de estudo e de qualificação especializada deixa muitos jovens pela metade do caminho. E com o risco de cair nos becos sem saída do abandono, das ruas e praças, do consumo viciado de álcool, da prostituição precoce, das drogas ou de tragédias ainda mais graves.
Resulta que, de algumas décadas até os dias de hoje, na história recente do Brasil (e não só aqui), o binômio trabalho-educação vem sofrendo um divórcio cada vez mais acentuado. Muitos estudantes recém-formados não encontram emprego e colocação na área para a qual se prepararam. Por outro lado, determinadas vagas na oferta de trabalho deixam de ser preenchidas precisamente por falta de uma capacitação específica no ramo solicitado.
Nas últimas cinco décadas, digamos, quantas profissões desapareceram do mercado de trabalho e quantas outras foram criadas? Essa pergunta puxa o fio da meada: como acompanhar e se preparar minimamente para tais mudanças vertiginosas no campo trabalhista da produção? Interrogações dessa natureza bombardeiam, simultaneamente, o mundo do trabalho e o mundo acadêmico. O país, em sua população trabalhadora, se revela descompassado com os avanços tecnológicos recentes e cada vez mais acelerados. O resultado imediato, vale insistir, é constatar que uma série de bons profissionais acaba por aceitar determinados serviços que pouco ou nada têm a ver com sua escolha, sua opção primeira, suas aspirações ou sua vocação.
O paradoxo é evidente: muitos profissionais indevidamente qualificados, por um lado, e, por outro, muitas vagas à espera de trabalhadores para áreas especializadas. O enigma pode ser visto por um enfoque diferente: muitos jovens apenas diplomados migram para o exterior em busca de novas oportunidades, enquanto algumas empresas não conseguem encontrar profissionais para os serviços que vão surgindo com a velocidade dos tempos contemporâneos.
No decorrer do século passado, uma série de instituições públicas de educação técnico-profissional, de abrangência nacional, estadual ou municipal – como por exemplo o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), o SESC (Serviço Social do Comércio) – contribuíram para a inserção no mercado de trabalho. Atualmente, com a revolução da informática, passamos da fase mecânica para a fase eletrônica, associada ao uso massivo da Internet. Fica a pergunta desafiadora: como preparar os jovens para os desafios de tamanha mudança? Como redesenhar os programas do SENAI e do SESC, sem deixar de lado a área das ciências sociais e humanas? Mais do que nunca, o desemprego, o subemprego, o trabalho informal e as analogias com a escravidão estão a exigir respostas urgentes e necessárias para o desenvolvimento integral, “novo nome da paz.
São Paulo, 24 de abril de 2023