Seminário discutiu a luta em defesa da água e a diversidade do Aquífero Guarani e o Grande Chaco

“Com esse Seminário, aprofundamos nosso conhecimento sobre o Aquífero Guarani, a Bacia do Rio da Prata e o Grande Chaco. Reafirmamos a necessidade de ações conjuntas da Igreja e de outros setores da sociedade civil nesse território, na perspectiva da ecologia integral; e decidimos continuar visualizando a construção de uma rede eclesial nesse contexto, cuja identidade e missão serão definidas conjuntamente, em diálogo com as distintas organizações e instâncias eclesiais concernentes, particularmente o CELAM.” Afirmou Dom Reginaldo Andrietta que integra a articulação para criar uma rede eclesial a partir dos territórios de aquíferos que abrangem as regiões sul, sudeste, centro oeste do Brasil e países da América do Sul para estruturar um grupo de trabalho junto a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

 

Nos dias 5 e 6 de julho na Casa de Encontros Sagrada Família na capital paulista, lideranças das pastorais sociais, de institutos religiosos, representações de conferências e movimentos sociais, debateram a proposta do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em considerar o Aquífero Guarani e o Grande Chaco, como um possível território de uma rede eclesial. O seminário discutiu a defesa da água, a diversidade e aprofundou sobre as demandas territoriais que envolvem as questões sociais, culturais, econômicas, ambientais e os impactos da ação antrópica e das mudanças climáticas. 

“Três passos para o lado como se fosse o embalo das águas de um rio, assim se caminha na luta em rede, um passo para trás porque as vezes é preciso recuar, dois passos para frente porque nós buscamos nos encontros com as pessoas, na palavra de Deus a força para retornar a missão em nossos territórios e continuar a luta. Porque nós sonhamos com a paz, sonhamos que acabem as fronteiras, sonhamos com o bem viver. Nós e o planeta terra somos um só e, por isso a reverenciamos”. Disse a irmã Joana Ortiz durante a dança circular que iniciou o último dia do Seminário Nacional da Articulação da Rede Guarani e Grande Chaco. 

No primeiro dia de seminário, o Professor e Doutor em Geografia, Cláudio Di Mauro da Universidade Federal de Uberlândia, apresentou uma Análise do Espaço do Aquífero Guarani e Grande Chaco. O professor Cláudio explanou sobre os biomas, bacias e os desafios em defesa da água. “Nós temos que discutir sobre a água que é fonte de vida. É fundamental que tenhamos compreensão das relações que estabelece entre a água de superfície, águas dos rios, a água que está nos lençóis subterrâneos superficiais e os aquíferos de profundidade. O aquífero Guarani já foi considerado o maior do mundo. As pessoas pensam que o aquífero é um oceano que está na parte mais interna da crosta terrestre, mas não é verdade. O Aquífero é uma rocha embebida com água e essa água é em grande quantidade, calcula-se que ela seria suficiente para abastecer todos os países onde está instalada por aproximadamente 200 anos. Mas, esta água está sempre sob risco de contaminações e por isso precisamos nos preocupar porque ela nos dá a possibilidade de termos a vida na superfície”. Disse o professor Cláudio. 


Quatro países da américa do sul possuem vínculo com o aquífero Guarani em razão da drenagem destas águas que formam a bacia platina constituída pelo rio Paraná e o rio Paraguai. Centenas de cidades incluindo no estado de São Paulo, dependem da água do aquífero Guarani, razão pela qual o Seminário discute as questões que envolvem a bacia platina e as águas andinas. O Grande Chaco abrange parte da Argentina, Bolívia, Paraguai e um pouco do Brasil e concentra uma diversidade de biomas que estão ameaçados. Umas das preocupações que envolve os aquíferos é a expansão do agronegócio nos territórios que geram graves problemas na infiltração de água e causam assoreamentos. A mineração é outra ameaça que destrói os componentes da natureza e produzem efeitos catastróficos que alcançam as áreas urbanas, gerando problemas sociais para as populações mais pobres,   povos e comunidades tradicionais.  

O professor Cláudio Di Moura reforçou que a conscientização sobre os aquíferos não pode ser feita do modo tradicional, é urgente que tenhamos uma educação de consciência com liberdade para transformar. Educar para incutir nas pessoas que elas são componentes da natureza e o desrespeito é autodestruição. 

Além das regiões de influência desse possível recorte territorial dos aquíferos, os participantes debateram propostas e dinâmicas para o processo de metodologia nas perspectivas da construção da rede eclesial. O seminário alcançou o objetivo no processo de construção da rede, organização dos grupos de trabalho constituído no coletivo grupo Brasil de articulação que ainda irão definir o nome e a abrangência. “Estes dois dias de seminário é muito importante para nós, sobretudo com a páscoa definitiva de Dom Cláudio Hummes que é testemunha de vida e presença na igreja. Em sintonia com o Papa Francisco que defende a ecologia integral, onde tudo está interligado e uma igreja em saída nós estamos aprofundando nos territórios a partir daquilo que surge e fere a obra da criação, fere a dignidade das pessoas humanas e que nos chama em conjunto a buscar transformações para o bem comum para que a vida possa existir.” Afirmou Frei Rodrigo Castro que apresentou a síntese do caminho para a construção da rede.

“Que bom que estamos começando a construir a Rede. Esse seminário é mais um passo importante da igreja para caminharmos juntos para buscar soluções em defesa da vida e da água que é limitada.”  Disse Irmã Joana Ortiz.

O encontro finalizou com os encaminhamentos para a construção dos processos metodológicos, encaminhamentos para um momento de escuta, definição para a identificação da rede e todo o processo de articulação.  

 

 

 



 

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