São Paulo, metrópole nordestina

Depois do caráter cosmopolita desta soberba cidade, não podemos esquecer seu rosto nordestino. Foram eles, os nordestinos da BA, CE, MA, PB, SE, PE, PI, AL, RN – junto com os mineiros, nortistas, paranaenses, paulistas, gaúchos, entre outros – que ergueram os prédios, traçaram ruas e avenidas, fabricaram uma infinidade de produtos industriais, realizando muitos sonhos e esperanças.

Eles também regaram o asfalto e o duro concreto com lágrimas, suor e sangue. Seus filhos e netos seguem a luta dos pais e avôs, mas os tempos sofreram mudanças rápidas e profundas, para usar a expressão da Gaudium et Spes, n. 4. O que levou não poucos às favelas e periferias, como vemos na obra de Carolina Maria de Jesus “Quarto de despejo”.

Hoje o desemprego, subemprego e trabalho informal – o divórcio entre trabalho e emprego estável – tudo agravado pela pandemia e o desgoverno, tem interrompido o sonho de muitos descendentes de nordestinos (como, aliás, de outros migrantes estrangeiros). Para muitos, a rua e a caridade pública vêm sendo o novo “quarto de despejo”.

Felizmente, os migrantes internos, da mesma forma que os que vêm de fora, contribuíram e seguem contribuindo intensamente para este imenso “caldeirão cultural” que é o Brasil. Aqui também os valores, as expressões culturais e religiosas e os saberes distintos se encontram, se cruzam e se entrelaçam.

A diferença constitui uma das maiores fontes de riqueza, fundindo pessoas, coisas e relações. Mas aqui também se faz sentir o preconceito e a discriminação. Vale por isso a mesma alternativa: guetos ou comunidades? A Pastoral dos Migrantes, em sintonia com o Papa Francisco, tem insistido sobre o encontro, o diálogo e a solidariedade. Menos muros e mais pontes! Somente a acolhida permanente pode nos ajudar a eliminar a cultura do gueto e da indiferença pela construção de nossa casa comum.

Nesta tarefa, os migrantes e imigrantes são verdadeiros profetas e protagonistas. Não apenas vítimas, mas sobretudo sujeitos de um amanhã recriado. Uma “terra sem males”, onde toda pessoa humana, respeitada em sua dignidade, possa com justiça sentar a uma mesa farta e desfrutar em comum o banquete da vida.

Nos 468 anos da metrópole paulista, quem sabe esse possa ser o maior presente que devemos oferecer a esta colossal aniversariante.

Parabéns São Paulo!

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